FRONTISPÍCIO DAS ARTES

A arte começa onde a imitação acaba. Oscar Wilde

domingo, 13 de março de 2011

Auro Malaquias dos Santos
Muito Além da Prateleira da biblioteca
O primeiro homem a ocupar o cargo de bibliotecário na biblioteca municipal de Mogi também é escritor e apaixonado pelo ser humano
Jamile Santana
Da Redação
Osvaldo Birke
PERFIL

Nome: Auro Malaquias dos Santos
Idade: 42 anos
Profissão: bibliotecário da Biblioteca Benedito Servulo de Santana
Por que Mogi? "Mogi me forneceu uma qualidade de vida que São Paulo não oferecia"
Pensamento: "Oh bendito que semeias. Livros, livros a mão cheia"

Oexpediente na biblioteca municipal "Benedicto Sérvulo de Sant´Anna" já havia acabado, mas o crachá ainda estava no peito de Auro Malaquias dos Santos, de 42 anos, o primeiro homem a ocupar o cargo de bibliotecário em Mogi desde a fundação oficial da unidade, em 1948. Bibliotecário há 15 anos sendo seis deles no cargo atual, Santos está ligado às novidades que ajudam a estimular o gosto pela leitura dos mogianos, como aconteceu na implantação da biblioteca Aberta, no Terminal Central.
A sabedoria popular diz que "quem empresta livros, não merece tê-los". E esta afirmação parece soar como uma grande bobagem quando mergulhamos no acervo de 32 mil livros, 12 mil deles disponíveis para circulação ou, ainda, quando são registrados 500 novos usuários por ano. Mas Santos não é só um "guardador de palavras". No último ano já escreveu pelo menos três romances fictícios e bem humorados. Desde que se lançou como escritor em 2009, com o lançamento do livro "A vida começa aos 40... Sonetos", editado pela Livro Ponto, de São Paulo, o bibliotecário tem levado a filosofia popular de que uma pessoa só alcança a realização plena na vida se tiver um filho, plantar uma árvore e escrever um livro, à risca.
Pode-se até dizer que Santos é mais do que um bibliotecário. Além de indicar bons livros, não dispensa uma boa conversa. Com tantas histórias para contar, Santos revela que a biblioteca pública não é mais lugar onde se pede silêncio.

Mogi News: Você é nascido na capital, não é? Como foi sua infância na cidade grande, era ligado aos estudos?
Auro Malaquias dos Santos:
Nasci na Mooca, perto do Parque Dom Pedro. Eu era uma criança criada na zona leste, bairrista. Na época os lugares não eram tão violentos, eu brincava muito na rua com os vizinhos. Era uma espécie de Vila Sésamo escondida (risos). Mas apesar de ler bastante, eu não era muito ligado à literatura não.

MN: Como você se interessou pela profissão que, até alguns anos atrás era dominada pelas mulheres?
Santos:
Desde sempre eu já alimentava uma curiosidade pelos livros, gostava muito de colecionar figurinhas e ordenar tudo por classe, por cor. Todos os lugares que eu ia, acabava procurando um livro. Eu ia na casa da minha tia, onde só tinha adultos, e ficava mexendo na estante, procurando um livro, uma revista. Sempre percebi que nos livros e revistas tem um mundo bem diferente. Conforme eu fui crescendo e entrei na faculdade, eu vi que a minha escolha foi mais racional do que emocional.


MN: Então, o que te incentivou foi o seu senso de organização?
Santos:
Foi sim, porque ser bibliotecário é como montar um grande quebra-cabeça. Eu usava este método, mas não era tão fanático, tinha apenas uma tendência.

MN: E na faculdade você aprende a melhorar estas técnicas?
Santos:
Tem uma matéria técnica, mas você aprende que a biblioteconomia nada mais é do que fazer uma ponte entre a informação e o usuário. Tem vários tipos de necessidades de informação e vários suportes para estas informações. Na época, não existia Internet, era uma época em que estava começando a se trabalhar as duas coisas juntas. Era um universo se abrindo. A gente nunca saberia o que iria fazer com tanta tecnologia.

MN: Agora que a tecnologia já está bastante avançada, com o surgimento dos e-books e do IPad, acha que a biblioteca corre risco?
Santos:
Acabar com as bibliotecas, não. Estas novas tecnologias vão complementar e andar lado a lado. Assim como o rádio a TV e o teatro. O que acredito é que haverá uma revolução na transmissão da informação, barateando o custo de produção e aumentando a velocidade de recebimento. É possível que a cadeia de produção gráfica e editorial sofra uma redução significativa. Algo como sofreram, por exemplo, os fabricantes de máquinas de escrever. No entanto, em relação à informação, a Internet é rápida e superficial. Já o livro impresso é lento e muito mais aprofundado. Em outras palavras, a leitura de livros fornece muito mais base para pesquisas iniciadas na Internet. A tendência é que, daqui a bons anos, a biblioteca tenha prateleiras de livros e IPads.

MN: A biblioteca púbica também assume um papel social?
Santos:
A biblioteca pública não só assume um papel social como esta é a sua principal função. Por muitos anos a biblioteca pública cumpriu um papel que não lhe pertencia, ou seja, o escolar. Hoje, a maioria das escolas tem lá suas salas de leitura e bibliotecas e começam a dar conta do recado, cumprem o seu papel pedagógico. A biblioteca atuou por muito tempo com uma função pedagógica, onde o aluno ia fazer trabalho escolar - geralmente a contra gosto. Isto criou uma imagem negativa, para a maioria das pessoas, de que a biblioteca pública é um lugar chato e que só serve enquanto se está estudando. Agora, pouco a pouco as pessoas começam a descobrir que a biblioteca pública é um lugar em que se pode ler um livro não por obrigação, mas, sim, por prazer.


MN: Qual é o perfil dos usuários?
Santos:
O perfil dos nossos usuários é muito diverso, pois representam a sociedade em que estamos inseridos, assim, temos pessoas de todas as idades, profissões e escolaridade. O que temos detectado ao longo destes anos, é que a maioria dos nossos usuários é do sexo feminino. Cerca de 70% de leitoras contra 30% de leitores. Este número se repete no empréstimo de livros.


MN: Apesar de trabalhar com livros, você parece apaixonado pelas pessoas. Como é esta relação?
Santos:
Quando você trabalha com um público muito diverso, precisa intermediar a chegada do usuário até a informação que ele precisa. Mas muitos deles vêm procurando uma orientação para situações que estão passando. Teve uma senhora uma vez que vinha aqui sempre procurando livros que falassem sobre o uso de drogas. Dias depois descobri que ela queria orientação de como lidar e ajudar um usuário a deixar o vício. No caso, o filho dela. Então não dá para ser frio e apenas indicar o livro. Acabo me envolvendo, conversando com as pessoas. Costumo brincar dizendo que a biblioteca não é mais um lugar onde o silêncio é obrigatório. Tem as salas específicas para isso, mas hoje é um lugar de convivência social.

Quais são as novidades que os usuários podem esperar para a biblioteca neste ano?
Santos:
A biblioteca é uma instituição sexagenária e vai completar 63 anos este ano. Continuaremos nossos trabalhos de empréstimo e consulta do nosso acervo nos esforçando em formar o cidadão por meio da leitura. Este ano, iremos iniciar a contação de histórias na biblioteca quinzenalmente nos períodos da manhã e da tarde.

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