FRONTISPÍCIO DAS ARTES

A arte começa onde a imitação acaba. Oscar Wilde

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Centro Cultural, contra ou a favor?

Foto de Enzo Ferrara
Imagem: Professora Yohanna
Local: Praça da Matriz, Centro Histórico de Mogi das Cruzes/SP


O Panorama da Cultura na Cidade de Mogi das Cruzes no ano de 2011

Por: Enzo Ferrara

Na quinta feira dia 17 de Novembro de 2011 tivemos uma audiência pública na Câmara Municipal de Mogi das Cruzes, ocasião em que recebemos a visita da Deputada Estadual Leci Brandão.
A audiência Pública deve ser vista como um marco na história, pois na ocasião podemos traçar um panorama cultural de Mogi das Cruzes, nossos desafios, projetos para o futuro, anseios e a dificuldade de trabalhar com a cultura.
Ficou claro que, o que é produzido na área da cultura não consegue chegar até as periferias da cidade, que parecem não fazer parte das políticas culturais.
A força de movimento que protegem a cultura negra na cidade mostrou sua face, declarando que cultura afro brasileira deve ser ensinada nas escolas.
Novamente teve alguém que pediu, de novo o Centro Cultural em Mogi das Cruzes, um pedido que está caindo de velho.
O ano de 2011 está chegando ao fim, mas foi muito produtivo, pois tivemos várias ações culturais no município, tivemos a experiência do Centro Cultural Dona Mariquinha, que durou apenas seis meses, porém muito produtivos e que vão ajudar a traçar um planejamento de qual caminho iremos seguir daqui pra frente, tivemos também o resultado das ações de alguns dos pontos de cultura e começamos um primeiro diálogo sobre a criação de um museu de artes de Mogi das Cruzes.
Na audiencia pública eu declarei publicamente, que a partir daquele momento tomo a postura de ser contra o Centro Cultural, principalmente do modo como ele sempre foi pedido.
A experiência do Centro Cultural Dona Mariquinha contribuiu muito para que eu formasse a minha opinião a respeito de centro cultural no município, pois tivemos experiências únicas naquele local.
Os artistas do município sempre pediram para que o poder público construir um centro cultural, equipar, contratar funcionários para gerir o centro cultural e dar todo o suporte para manter o mesmo aberto, deixando assim para o artista a função de trazer apenas o que ele produz de tempos em tempos, ou seja mais um Ciarte. Na atualidade um centro cultural pede um envolvimento maior da comunidade e dos artistas, pois o ambiente de um centro cultural é um local de vivencia das mais diversas liguagens culturais em um mesmo local, o Estado não poderia gerir um centro cultural sozinho, de forma neutra, pois o Poder Público tende a priorizar as produções que ele julga ser a melhor, para formar a identidade culural da população que ele representa, fazendo assim com que um determinado artista ou grupo seja amplamante valorizado e outros simplismente excluidos, foi o que aconteceu com a cantora Carmem Mirana na política de boa vizinhança com os EUA.
Agora com uma opinião mais madura de quem realmente vivenciou a criação de um centro cultural poderia ter, sei que se um centro cultural como todos os artistas sempre pediram, para a prefeitura construir, para que o mesmo abrigasse o que é produzido pelos artistas do município, jamais daria certo.
A minha opinião é exatamente ao contrario da maioria dos artistas, corro até o risco de muitos virarem as costas para mim, mais mesmo assim, corajosamente declaro que sou contra esse centro cultural que a décadas escuto os artistas da cidade pedir em todas as vezes que nos reunimos, por Três motivos principais.
O primeiro é a organização dos artistas, pois todos pedem há muito tempo pelo centro cultural, mais a hora de se unir e criar uma ONG, associação ou qualquer outra representação parece já ter passado, ficando assim uma má impressão de que os artistas pedem por um centro cultural apenas da boca pra fora. Muitos artistas que são mais próximos de mim sabem que eu participo ativamente de todas as reuniões, quando o assunto é a melhoria da cultura na cidade, então tenho uma opinião formada com base, de quem participa, ouve e fala em prol da cultura para todos.
As reuniões do Comuc (Conselho municipal de Cultura) de Mogi das Cruzes é o maior exemplo da falta de organização da classe artística da cidade, pois lutamos por melhorias, mais falta gestão, os projetos aprovados pelo Projeto Denerjano estão parados, as reuniões deveriam seguir um calendário, que não é respeitado e contamos com a participação de apenas alguns dos conselheiros, mostrando que no geral tem uma tremenda falta de interesse por parte dos próprios conselheiros, afinal se não teriam tempo para fazer suas representações no conselho, por que se elegeram então?
A falta de gestão é presente também na parte de documentação, pois muitos documentos e projetos, aprovados pelo Comuc anterior deveriam estar arquivados no armário da sala de reuniões no prédio da biblioteca, mas não estão lá, onde deve ter ido parar? Dizem que os mesmos estão na casa da ex presidente do conselho, e por que estão lá? Será que tem alguma coisa aprovada pelo Comuc anterior que não devemos saber?
O Fato é que como artistas do município não conseguimos nos reunir, nem para fazer uma reunião, para discutir sobre os problemas da área cultural, nem como conselho, quem dirá gerir um centro cultural municipal, que é muito mais complexo.
Quando nos mostramos desorganizados, na hora de apresentar algum projeto importante para a área da cultura, passamos uma imagem de inseguramça e incerteza, uma imagem de que não somos capazes de realizar qualquer ação cultural, e isso é muito ruim para todos, pois a população só tem a perder.
O segundo desafio é a falta de envolvimento na gestão de projetos e políticas públicas nas mais diversas áreas.
A audiência publica na câmara municipal de Mogi das Cruzes foi cheia de gente, contamos com a presença das principais lideranças culturais do município, mas infelizmente essas mesmas lideranças não participam das reuniões do Comuc, que são abertas. No caso do centro cultural Dona Mariquinha fizemos várias reuniões em seis meses, por lá passaram por volta de 60 artistas, desses 60 artistas saíram apenas 9 gestores, que estavam realmente a frente das ações culturais, e por causa dos 9 gestores é que as oficinas foram transferidas para o atual prédio da corporação musical Santa Cecília.
Todos os artistas pedem por um centro cultural, com um sonho na cabeça, mas esse mesmo sonho termina quando se fala no envolvimento na gestão de um centro cultural, alguém terá que abrir e fechar a porta no horário certo, terá que varrer o chão, lavar o banheiro, pagar as contas de água e eletricidade, montar exposições e arquivar todos os documentos referentes ao centro cultural, e aí todos pulam fora, ninguém pode, ninguém tem tempo. Parece que quando tiver um centro cultural uma nave espacial irá pousar em Mogi das Cruzes, de dentro dela irá sair um ET e ele irá gerir o centro cultural.
Tudo isso é muito grave, pois se tivermos um centro cultural, como a maioria dos artistas mogianos sempre pediram, ele corre o risco de se tornar um cabide de emprego para funcionários públicos, pois um centro cultural é constituído por artistas e amparado pela sociedade.
O terceiro motivo é a falta de interesse da população mogiana e do poder público quando o assunto é a área da cultura.
Mais uma vez a audiência publica deve ser usada como exemplo, pois o maior representante da população mogiana, novamente não estava presente no local, o nosso Prefeito Marco Aurélio Bertaiole, quando o assunto é a área da cultura ele nunca está presente. Na falta do Prefeito um bom representante seria o Secretário Municipal de Cultura, o Senhor José Luiz Freire de Almeida, que é considerado um verdadeiro Zé, quando o assunto é cultura, e novamente não tivemos a ilustre presença do Secretário Municipal de Cultura.
A população Mogiana também não fica atrás, atualmente o Museu das Igrejas do Carmo abriu suas portas para visitação, as visitas são gratuitas, no acervo podemos encontrar imagem raras, que contam um pouco da formação da identidade cultural da cidade, no primeiro sábado de cada mês, o museu promove uma palestra, que fala do rico patrimônio que temos na cidade e outros no Estado de São Paulo, porém com tudo isso de graça, a população mogiana não participa, não visita, não se envolve, ela parece ter uma completa falta de interesse por tudo aquilo que seu município tem.
O caso do Museu das Igrejas do Carmo não é fato isolado, a visitação em ações culturais é pequena, mesmo na maioria das vezes sendo gratuitas.
Esse é de longe um dos maiores desafios da área da cultura mogiana.
Os problemas da área da cultura são muito complexos, resolver essas questões pede um envolvimento maior dos artistas, pois a formação da identidade cultural do município é formada no dia a dia e não apenas nos grandes eventos. Esses problemas devem ser encarados de frente, e não ser ignorados como se não existissem, como se fossem invisíveis, aliás, é como eles foram encarados até o momento, como se não estivesse acontecendo.
Bons exemplos devem ser citados, e o melhor dele é o Centro Cultural de Diadema, que como a própria Deputada Leci Brandão afirmou, um Centro Cultural que tem de Tudo, centro que foi formado por artistas e é gerido por artistas.
O Centro Cultural de Diadema é algo que deu certo por uma simples questão, que falta em Mogi, o “Envolvimento.” Os artistas se envolveram no projeto, o Poder Público, de inicio não apoiou, mas a população, através de associações, ONGs e sindicatos começaram a abraçar o projeto e aí por ultimo o Poder Público se viu obrigado a dar apoio e ai o Centro Cultural de Diadema virou uma realidade que está de portas abertas até hoje, a mesma porta que ficará aberta enquanto houver o envolvimento real de todos. É um Centro Cultural assim que eu apoio, um Centro Cultural no qual as pessoas desejem de verdade e não da boca pra fora e se envolvam por completo.
Tenho muita esperança no futuro, pois Alguns Pontos de cultura estão tendo a vivência de trabalhar com uma verba, planejada e com prestação de contas, verba essa que é pouca, mas para quem trabalhava com nunhum recurso, é o primeiro passo firme, para que os pontos de cultura caminhem com as próprias pernas e busquem novos recursos.
Alguns pontos de cultura merecem destaque como a Estação Cultura Sabaúna, que tem como a principal gestora a artista plástica Marineis Dias, não por acasso é que escolhi esse ponto para ser o primeiro. Tudo que acontece em Sabaúna tem que ser no entorno da Velha Estação de Sabaúna, que é gerida por uma artista, mostrando que sim, nós somos capazes de gerir.
Outros pontos de Cultura e grupos do município tem mostrado bons resultados, a Escola de Samba Àguia de Prata, o Galpão Arthur Neto, o grupo Zapt, O Grupo de danças brasileiras Jabuticaqui, O Grupo de Artes Frontispício,
O Museu das Igrejas do Carmo, e o CECAP do Pinhal.
Mogi das Cruzes é um polo de produção cultural, antes de se quer falar sobre Centro Cultural, temos que nos perguntar se realmente queremos um Centro Cultural, se vamos nos envolver no projeto realmente, e se somos capazes de gerir algo tão grande, se a resposta for não, então temos que refletir o porquê e juntos encontrar um novo caminho, mas se a resposta for sim, então é hora de somar forças e começar a nos organizarmos para juntos construir não apenas um, mas vários Centros Culturais.



Enzo Ferrara
Agitador Cultural
Artista Plástico Naïf
Membro do Grupo de Dança Filhos do Fogo
Membro do Grupo de arte Frontispício
Representante dos Artistas Plásticos no conselho municipal de Cultura de Mogi das Cruzes.

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