FRONTISPÍCIO DAS ARTES

A arte começa onde a imitação acaba. Oscar Wilde

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

MANIFESTO DA CULTURA MOGIANA


O povo brasileiro é rico em sua diversidade étnica e cultural, e a cidade de Mogi das Cruzes simboliza bem essa diversidade, pois na formação da cidade que tem mais de 450 anos encontramos traços da herança indígena, forte presença da cultura lusitana e africana, que são as bases da formação da população da cidade, que ainda recebeu a cultura dos imigrantes japoneses e de origem árabe, pois a cidade tem até mesmo uma mesquita.
A Tomada de consciência de que a produção cultural tem problemas e grandes desafios não vem de hoje, por isso é necessário que o poder público, em parceria com artistas e produtores culturais, fomente políticas públicas, que tenham como objetivo a pesquisa, proteção, inclusão e acesso aos bens culturais produzidos pelo município.
A sociedade contemporânea vive num processo de globalização, que influencia até mesmo a cultura e suas produções. Para que a identidade cultural do povo em nível municipal e conseqüentemente, regional, Estadual e Nacional não desapareça neste processo de globalização é necessário que cada vez mais o debate e o diálogo entre o poder público e os produtores de cultura seja mais amplo, planejado e objetivo.
A Imprensa marrom de Mogi das Cruzes não publicam em matérias as reclamações dos artistas, ou por que em vinculo de relações comerciais com a Prefeitura, ou por que tem um verdadeiro desprezo pela cultura, o fato é que estamos sem voz, e em alguns casos ela faz censura com os poucos que conseguem ainda falar dos nossos desafios da cultura contemporânea.
Analisando outros países como Índia e China, que passam por um processo de Crescimento Econômico muito parecido com o que ocorre com o Brasil, vemos que o governo investe e apóia as produções culturais que valorizam a identidade cultural de suas populações, e já apresentam resultados. Na China, nos últimos anos, vemos muitas escolas de música se espalhando por todo país, principalmente a de música clássica, e o governo faz questão de incluir a nova geração de músicos nos eventos oficiais da nação. Na Índia o destaque vai para a produção de Cinema, que ganha prêmios na Europa e na América do Norte.
A Cidade de Mogi das Cruzes é vista por outros municípios da Grande São Paulo como um verdadeiro Celeiro Cultural, mas enfrentam,  já há muitos anos vários desafios que a cultura passa em território municipal, que preocupa por vários motivos, pois os mesmos produtores culturais que levam o nome do município para eventos importantes, não tem o menor apoio da prefeitura e nem mesmo conseguem um dialogo com a mesma.
Os artistas e produtores culturais vem há muito tempo se organizando para realizar ações culturais no município, de forma independente, planejando e promovendo a inclusão da população ao universo cultural de forma pública e gratuita, na maioria das vezes sem contar com o apoio da prefeitura. Nesse processo a população tem acesso e é incluída, porém quando contamos com o apoio do poder público conseguimos atingir um número maior da população, dando mais visibilidade para o município e para os artistas.
Já houve no passado várias organizações como a criação da AMBA (Associação Mogiana de Belas Arte) em 1960, que se manteve viva por oito anos, alguns anos depois os artistas do município tentam se reorganizar com a Associação dos Artistas Plásticos e com a criação da I bienal do Alto Tietê. Em 2009 surge o Grupo de Artes Frontispício, que leva o rico universo das artes plásticas e ações culturais para a rua onde o povo está.
Devem ser destacados também os trabalhos feitos nos Bairros e no Centro Histórico de forma independente, caso da Casa do Artesão de Taiaçupeba, da Estação Cultura de Sabaúna, dos Grupos de Congada, da AJPS de Cesar de Souza, do Grupo de Danças Brasileiras Jabuticaqui, O Grupo Zapt de Teatro de bonecos, a Escola de Samba Águia de Prata, o Museu das Igrejas do Carmo, a Banda Santa Cecília, o CECAP do Pinhal, a Quadra de Basquete da Vila Industrial, os ateliês dos Artistas nos Bairro e o Galpão Arthur Netto são alguns exemplos de iniciativas de grupos que promovem ações culturais, que devem ser valorizados e incentivados pelo poder público e que provam a polaridade de Mogi das Cruzes na Cultura.
Na área das artes visuais a história começa com as pinturas no forro do conjunto das Igrejas do Carmo, pintadas no estilo Rococó tardio, feitas na virada dos séculos XVIII para XIX. Em 1818 a passagem do Pintor Thomas Ender, junto com a missão Austríaca, cria as primeiras imagens da cidade de Mogi das Cruzes e arredores, foram produzidas 782 de autoria de Thomas Ender, que foram produzidas entre 10 de Abril de 1817 e 1 de junho de 1818, durante a viagem do pintor pelo Brasil, vindo da Cidade do Rio de Janeiro para São Paulo. Alguns anos depois foi a vez do Pintor Brasileiro Miguel Dutra retratar Mogi das Cruzes, seus costumes e habitantes em seus desenhos, sendo o primeiro a pintar a Festa do Divino Espírito Santo. Outros Nomes importantes passaram por Mogi ou nasceram por aqui caso de Wilma Ramos, Alfredo Volpi, Darcy Cruz, Nerival Rodrigues, Miguel Barros (O Mulato), Mestre Chang, Victor Brecheret, Heraldo Moraes, Daniel Mello, Lúcio Bittencourt, Akinori Nakatani, Maurício Chaer e Zeti Muniz são nomes de referencia artística na produção nacional contemporânea.
O município tem forte vocação para a produção de cultura popular, como a Festa do Divino Espírito Santo, os Bonecos gigantes de Sabaúna muito popular no carnaval, o Grupo de Danças Brasileiras Jabuticaqui valoriza e divulga as danças de origens distintas como o carimbo e as danças de roda, em Mogi das Cruzes encontramos vários grupos de congada, que mantém um vinculo direto com a Festa do Divino Espírito Santo, e até mesmo no artesanato produzido nas oficinas Divineiras que são vendidos pelos artesões na praça Oswaldo Cruz, no Centro de Mogi das Cruzes.
O patrimônio arquitetônico é um caso a parte, pois aqui em Mogi das Cruzes encontramos ainda a arquitetura colonial e o maior patrimônio ainda de pé é o Conjunto Carmelita, construído em 1633, é mais antigo que a cidade de Ouro Preto em Minas Gerais, no centro histórico contamos com imóveis construídos por mãos de escravos, caso do prédio do Museu Guiomar Pinheiro Franco, onde as Portas e Janelas foram construídos por escravos africanos.
A Cultura Afro faz parte da formação cultural do município, pois temos a influencia da cultura africana na Festa do Divino Espírito Santo, nos Grupos de Congada, nas Danças de roda, no Carnaval, na Música regional, nas festas populares, nas Igrejas de São Benedito e na Extinta Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos (Atual Binder Hotel), na culinária e nos costumes, mostrando o quanto a cultura Africana está presente na formação social e cultural do Município.
Com tanta produção cultural se faz necessário ter um local de encontro e acesso a toda essa produção cultural, aproximando a população ao universo das artes. Pensando no caso os artistas e produtores culturais do município vem pedido nos últimos anos o tão desejado Centro Cultural Mogiano, porem a conclusão que chegamos, após a um longo período de reuniões, é que no atual momento em que vivemos apenas um centro cultural não atenderia a demanda da população de Mogi das Cruzes, seria necessário um Centro cultural Central grande e pólos um centros culturais menores nos bairros, promovendo assim uma integração maior do centro com toda a cidade, podendo ser utilizado até mesmo os pontos culturais que já existem nos bairros.
A Presença dos meios de comunicação digital na vida dos brasileiros do século XXI é cada vez mais freqüente, visando um maior acesso e intercambio com os meios de comunicação , entre a cultura e os centros culturais, seria necessário também a criação dentro dos centros de pequenas Salas de Internet, onde os usuários do centro cultural podem ter acesso aos meios de comunicação, em contrapartida o centro cultural criaria o acervo digital, para pesquisa e divulgação.
Os centros culturais tem como formação uma Biblioteca, a sala de internet, o acervo, a sala de conselho administrativo, pequenos palcos para apresentação de Dança, Teatro e música, auditórios para promoção de debates, palestras e reuniões com artistas e produtores culturais, salas de oficinas, além de ser um espaço de formação com cursos de capacitação dos artistas, por exemplo: O curso de economia criativa, planejado pelo PNC (Plano Nacional de Cultura).
Atender as reivindicações dos artistas e produtores culturais é fazer com que o 215, previsto na Constituição Brasileira de 1988, seja cumprida com a ajuda e envolvimento do estado através do poder público da prefeitura, com isso ganha o povo que tem a sua identidade cultural protegida e amparada de forma inclusiva e acessível.
Muitas vezes colocamos a responsabilidade dos caminhos da cultura em candidatos a vereadores ou a prefeito, mas iso não tira a responsabilidade de que cada artista é o principal agente transformador da própria vida cultural e como cidadão, sim nós podemos nos envolver políticamente e cobrar nossos candidatos, mas ainda assim temos outras ações paralelas. Temos que nos oraganizar em Classe de Trabaladores Artistas, procurar cursos profissionalizantes, afim de criar projetos para buscar verbas de outras origens e melhorar a forma de acesso ao nosso proprio trabalho. Temos ainda muito o que fazer para colher bons frutos no futuro. 





Mogi das Cruzes, 20 de Agosto de 2012






Enzo Ferrara
Artista Visual Naïf