FRONTISPÍCIO DAS ARTES

A arte começa onde a imitação acaba. Oscar Wilde

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

ELITE CULTURAL



Cultura, Representatividade e luta de Classes

Por: Enzo Ferrara

O dicionário Aurélio define elite como o que há de melhor numa sociedade ou num grupo social ou no caso da divisão de classes dentro de uma sociedade, camada social que detém mais privilégios.
Sabemos que existe uma luta de classes, declarada a muito tempo, de um lado a minoria que tem acesso a melhor educação, saúde, comida, vestimenta, até mesmo acesso a produção cultural, pois ela tem acumulo de recursos, o que permite uma vivencia ampla e privilegiada de tudo isso. A Classe “A” da elite também produz cultura, que podemos definir como “Cultura Erudita”, feita pela elite social, para se consumida pela elite, tais como o Teatro nos melhores espaços, ver um lançamento exclusivo de um Filme, ficar na área vip de uma casa noturna, freqüentar os melhores shows, enfim tem o acesso a produção cultural, antes de todos. No outro lado a maioria, o Povo, que não tem acumulo de riquezas, ganha o necessário para viver, tem acesso a produção cultural primeiro só quando a cultura é de “Cultura de Massa”, como pro exemplo as novelas da Rede Globo. O povo é classificado como público popular, tem acesso a cultura quando ela se populariza, todos consomem e assim a produção fica num valor mais acessível, aí todos podem consumir. O Popular também produz arte, muitas vezes recebe o nome de cultura popular e suas vertentes, bons exemplos são as festas populares como a junina e a do divino, o artesanato, na música o forró, música sertaneja, Samba e até mesmo o funck, nas artes visuais a arte Naïf e a Cerâmica figurativa.
Essa luta de classes muitas vezes parece desigual, por que ao produzir cultura o resultado se torna um produto, o produto deve ser vendido, mas quem tem dinheiro para consumir esse produto, muitas vezes é a elite. O povo muitas vezes o povo nunca tenha acesso a algumas produções culturais, pois não conseguem chegar até ela.
A Função de democratizar o acesso a cultura é do governo, que tem verba para apoiar a produção cultural e promover o acesso a ela. Definir o que é melhor, não é função fácil, de tempos em tempos tem o debate dos meios de fazer isso, como os pontos de cultura, os projetos do Minc, fazer esse acompanhamento é função de todos.

A Elite cultural é um caso a parte, pois nesse caso ela é formada exclusivamente por artistas, que se destacam mais no meio da produção cultural de uma cidade, região, Estado ou País. O diferencial da elite cultural, não é o dinheiro, os artistas pertencentes a ela nem sempre acumulam riquezas, ou moram em bairros nobres, a riqueza nesse caso é de outra qualidade. A Riqueza que a elite cultural acumula é a do conhecimento e experiência de vivenciar os caminhos da produção cultural. O Professor de faculdade é um bom exemplo, muitos são mestres e doutores nas mais variadas disciplinas, mas devido à falta de atenção e apoio a educação no Brasil, muitos deles não ganham um salário mais justo a altura da importância desses profissionais, que formam outros profissionais, que podem atuar no campo da pesquisa e do ensino.
No caso de Mogi das Cruzes existe uma clara divisão de duas elites culturais. Uma é a elite veterana, compreendida pelos artistas que produzem arte a partir da década de 1960, com a criação da Amba e participantes das edições das Bienais do Alto Tietê. Artistas como Nerival Rodrigues, Lúcio Bittencourt, Maurício Chaer, Belini Romano, Olga Nóbrega, Ana MarB, Akino Nakatani, , Victor Wou, Daniel Melo, Marcos Leandro e Norberto Duque são alguns artistas representantes da elite, que aqui vamos chamar de “Velha Guarda”, alguns nem fazem mais exposição na região ou não produzem mais como é o caso do JAM (José Antônio Moraes). A Principal característica desses artistas é a produção de arte voltada para elite social e o desejo de ascensão social através delas.  
Existem alguns artistas que não se enquadram no perfil da primeira elite, são artistas de produção mais acessível, que tem um trabalho de crítica de valores e até mesmo da divisão de classes e da falta de acesso a produção cultural para a maioria, que aqui vamos chamar de “Elite de Rua” caso esse de João Castilho e do Grafiteiro Bozer, de Cláudio Assis Leme, alguns grupos como o  galpão Arthur Netto.
A “elite popular” é a contradição da contradição, é uma elite, pois se destaca, mas é composta por artistas que promovem ações culturais, visando dar acesso a toda produção cultural da região, caso esse da artista Marineis Dias, que promove ações culturais na Estação Cultura em Sabaúna, a Arte Educadora Jô Ferré, que utiliza artistas da cidade de Mogi das Cruzes para ensinar arte para alunos da rede pública de ensino, o grupo de danças brasileiras Jabuticaqui, e os artistas do grupo de artes Frontispício, onde alguns artistas se destacam mais, caso esse de João Ruíz, Linda Fuga, Adelaide L. Swettler, Zeti Muniz, Aretusa B.B. Nico Pereira, Enzo Ferrara e Milton Martins. Entre esses artistas uma das principais características é que muitos deles têm uma segunda ocupação, que auxilia o trabalho de artistas plásticos, alguns trabalham como professores de pintura, outros como restauradores, professores, costureiro, encanador, e no meu caso de Barman e Garçom.
O mundo mudou, a definição de muitas coisas mudaram também, estamos no início de um novo século, e a questão agora é sobre como a geração, daqui a 100 anos irá nos ver? Hoje podemos definir como uma mudança significativa, de alguns artistas que tem uma forte ação social na comunidade onde vivem, muitos estão se aproximando do povo, não como antes, como alguém que vem apenas fazer pesquisa para produzir a obra de arte e depois vai embora, alguém distante da realidade, mas como o artista que faz parte, que as pessoas podem encontrar na fila do supermercado, o artista que faz parte, que inclui e questiona, uma pessoa de carne e osso. E a tendência é popularizar cada vez mais a arte.