FRONTISPÍCIO DAS ARTES

A arte começa onde a imitação acaba. Oscar Wilde

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

ARTISTAS SEM GALERIA

Sheila Ortega/Divulgação

Foto de natureza morta ‘#5’, de Sheila Ortega
O que é preciso para ser um artista? Um diploma em artes plásticas? Um portfólio arrasador? Amigos nos lugares certos? Levando em conta a mostra anual Salão dos Artistas Sem Galeria, basta apenas ter talento.
Aberto a todos os tipos de artistas – eles só precisam ter mais de 6 anos de idade e não ser representados por nenhuma galeria de São Paulo – o Salão é capitaneado por Celso Fioravante, dissidente do mundo artístico, fundador e editor do Mapa das Artes. Ele, junto com os jurados convidados, recebe dezenas de inscrições todos os anos, desde obras assinadas por completos novatos até portfólios de artistas com longas carreiras.
Os trabalhos dos dez artistas selecionados para participar do Salão deste ano passeiam por diferentes técnicas, como vídeo, fotografia e giz de cera, pintura e escultura. E elas estão sendo expostas em mostras simultâneas em duas galerias: a sofisticada e bem cotada Zipper Galeria, nos Jardins, e a Casa da Xiclet, mais descolada e casual, na Vila Madalena.
O ecletismo tempera essas obras, desde as pinturas a óleo de Zed Nesti, audazes e macabras, até as maravilhosas paisagens urbanas sombreadas de Clara Benfatti, montadas em delicadas camadas de papel com os detalhes destacados em nanquim branco. Repletas de estranhas formas orgânicas, as pinturas delirantes de Marcos Akasaki representam jardins esquisitos cheios de cor e vida, enquanto que, na natureza morta #5 de Sheila Ortega, fotografia que faz parte da série ‘Ao Alcance do Chão’, a aparente simplicidade dos objetos – escovas gastas, pedaços de plástico e fragmentos de ferramentas dispostas com maçãs, laranjas e um balão branco – torna-se mais instigante conforme estudamos os objetos, a bandeja onde estão colocados e a textura da parede de trás.
Os artistas foram escolhidos entre 149 candidatos por um júri formado pelos curadores João Spinelli e Paula Braga e pelo galerista Elísio Yamada, da Galeria Pilar. “Fiquei contente de ser chamado para participar”, diz Yamada. “O conceito dos artistas sem galeria tem muito a ver com o que estamos fazendo, como galeria jovem que somos.” A Galeria Pilar, fundada em 2011 por Yamada e Henrique Miziara no bairro da Santa Cecília, representa cerca de 12 artistas.
Entre eles, estão o criador de instalações Bruno Baptistelli, o pintor André Ricardo e o criativo e divertido escultor Chico Togni, além de nomes mais conhecidos, como a argentina Marta Minujín, mestra da arte performática.
Será que os galeristas visitam esse tipo de evento em busca de novos talentos para seus elencos? “Sim!”, responde Yamada. “Nós mesmos fizemos isso no caso de Rodrigo Sassi, um artista que está indo bem no momento. Na verdade, já tínhamos visto o trabalho dele antes; mas nosso interesse foi confirmado durante o terceiro Salão dos Artistas Sem Galeria.” Naquela edição, Henrique Miziara, sócio de Yamada na Galeria Pilar, era um dos jurados.
Da mesma forma, será que todo “artista sem galeria” busca uma galeria para representá-lo? “As galerias são importantes”, diz Yamada. “Elas funcionam como agentes públicos da cultura, à medida em que se tem uma galeria aberta a todos e com entrada gratuita. Elas são formadoras de opinião. Mas também acho que, por diversos motivos, inclusive tecnológicos e geográficos – a facilidade com que as pessoas e as coisas podem se mover e ser vistas agora –, existem cada vez mais maneiras de os artistas participarem do circuito artístico. Acho que é absolutamente possível um artista se estabelecer sem a ajuda de uma galeria, e acho que muitos estão procurando maneiras de fazer isso. As galerias precisam pensar sobre isso também – novas estratégias e maneiras de trabalhar em parceria com os artistas.”
O 5º Salão dos Artistas sem Galeria acontece na Zipper Galeria e na Casa da Xiclet (R. Fradique Coutinho, 1.855, Vila Madalena, 2579-9007.casadaxiclet.com).